sexta-feira, 29 de julho de 2016

Mitos e fatos sobre alimentos - I

A quantidade de informação sobre alimentos que nos chega pela Internet, redes sociais, imprensa e mesmo nas conversas do dia a dia é tão imensa quanto contraditória. É comum, por exemplo, haver discussões a respeito de vegetarianismo, veganismo, em contraposição aos fãs dos alimentos de origem animal.

Certamente, não quero entrar nessa discussão, e minha opinião sincera sobre o assunto é: cada um come o que bem entender, mas não precisa convencer os outros a adotar sua dieta.

Muitos mitos sobre alimentos são propalados pelas redes sociais, por sites da Internet, pela imprensa e, pasmem, até mesmo pelos médicos. Frequentemente, aparecem informações de que determinado alimento faz mal, é nocivo, venenoso, encurta a vida, causa doenças como cardiopatias e câncer, e por aí vai. Também já não é incomum alimentos antes "banidos" voltarem à "moda", "ressuscitados" como excelentes para a saúde, depois de serem condenados como nocivos.

Quero elencar aqui alguns mitos e fatos sobre alimentos, entre os mais comuns e mais consumidos. Não sou, é claro, dona da verdade, e pesquisei muito antes de escrever alguma coisa sobre isso, mas quero que reflitam sobre isso. Fico aberta a opiniões. Vamos lá:
Pimenta do reino
1) Mito: A pimenta-do-reino é uma planta venenosa, e como tal deveria ser banida das nossas mesas, por ser irritante e nociva para o sistema digestivo.

Fato: Não existe nenhum tipo de veneno na pimenta do reino, qualquer que seja a forma em que ela se apresente (preta, vermelha, branca ou verde). O sabor picante da pimenta do reino vem da piperina, que só fará mal ao estômago se for consumida em quantidades e frequência muito grandes. Consumida com moderação, não faz mal nenhum, a não ser em pessoas reconhecidamente alérgicas à essa especiaria e nas que possuem histórico médico de problemas de úlcera, azia e outros problemas relacionados ao estômago. Nesse caso, pode-se consumir, como substituta, as pimentas vermelhas, que apesar de terem sabor mais picante, são totalmente inofensivas ao sistema digestivo.
sal rosa do Himalaia: muito caro para pouquíssimos benefícios
2) Mito: O sal rosa do Himalaia é muito mais saudável que o sal comum, por conter vários minerais essenciais ao corpo humano.

Fato: Quase 95 por cento da composição do sal rosa do Himalaia é cloreto de sódio, o mesmo sal comum que consumimos há milênios. Embora ele tenha na sua composição outros minerais, esses estão presentes em quantidades tão ínfimas que os ganhos nutricionais serão praticamente nulos. Mais, por ter um sabor (supostamente) menos salgado que o sal comum, ele pode induzir a um perigosamente alto consumo de sódio. O alto preço cobrado por esse sal, que pode ser até 20 vezes superior ao preço do sal comum, não compensa os supostos benefícios. É um condimento totalmente dispensável.

3) Mito: A margarina, por ser vegetal, é mais saudável que a manteiga, pois não tem colesterol e nem gorduras saturadas.

Fato: A manteiga não é uma vilã, como se propalou por muito tempo, e pode até ser mais saudável que as margarinas, constituídas basicamente de gorduras hidrogenadas, cujo potencial de danificar as artérias é consideravelmente maior. Todavia, consumidas moderadamente, o potencial desses alimentos de causar efeito nocivo é muito pequeno, para não dizer desprezível. Creio que dispensa preocupações. Para cozinhar, sugiro usar a manteiga, ou mesmo a banha de porco. Deve-se levar ainda, em consideração, que ambas são alimentos de alto valor calórico.

4) Mito:  A carne de salmão, hoje amplamente disponível no mercado, por preços relativamente acessíveis, provem de aquacultura intensiva, não possuindo nutrientes como ômega-3 e são perigosos à saúde, por conter gordura em excesso e antibióticos para evitar doenças nos peixes.

Fato: Em primeiro lugar, a pesca de salmão selvagem é insustentável e levaria tais peixes ao risco de extinção, além de levar o produto a preços absurdamente caros e inacessíveis. É provável (mas não confirmado) que o salmão selvagem tenha maior nível de nutrientes, como vitaminas e ômega-3, mas também é mais provável que tenha maior contaminação por metais pesados, por exemplo, que estão presentes nos crustáceos que constituem sua base alimentar. O salmão é um peixe frágil e suscetível a condições ruins de água, então é improvável que sobreviva a condições tão ruins quanto as propaladas pela Internet. O peixe é gordo, naturalmente, e portanto com alto valor calórico, mas, fora isso, e na quantidade em que é consumido, não fará mal pra ninguém, podem consumir sem preocupação.
Panga
5) Mito: O peixe Panga, um dos mais baratos disponíveis no mercado, é um peixe altamente contaminado do Rio Mekong, com vermes e outras doenças, e se alimenta de restos de outros peixes mortos.

Fato: o peixe Panga, as vezes denominado de Pangasius, realmente é importado do Viet-Nan e é comum no Rio Mekong e outros rios do Sudeste da Ásia. O Rio Mekong é um dos maiores rios do mundo e tem uma diversidade biológica somente inferior à do Rio Amazonas. A pesca comercial é intensa e produtiva, e daí pode-se concluir que não é um rio tão contaminado quanto propalam na Internet. O peixe é comercializado em 120 países, incluindo praticamente toda a Europa e a América do Norte, passando por todos os processos de inspeção de produtos animais, bastante rigorosas atualmente. O fato do peixe comer restos de outros peixes mortos é característico de todos os peixes semelhantes a ele, comuns e consumidos no mundo inteiro, Pode ser consumido sem susto, é barato e é boa fonte de proteínas, mas o seu sabor é pronunciado e não agrada a todos.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Breakfast americano versus café da manhã brasileiro

Qualquer brasileiro que tenha viajado aos Estados Unidos, ou que tenha ao menos se hospedado em um hotel com cozinha internacional, sem dúvida deve ter estranhado a composição de um típico breakfast americano.
Ovos com bacon e pão de forma, típico dos breakfasts
De fato, brasileiro não tem hábito de comer ovos fritos com bacon no café da manhã. Aos olhos dos brasileiros, comer uma refeição tão forte logo pela manhã parece um grande contrassenso.
Cereais matinais doces, bem ao gosto americano
É claro que o típico breakfast não é uma unanimidade do dia-a-dia dos americanos, mas sem dúvida é uma refeição bem mais completa, e por que não dizer, pesada, para o padrão do brasileiro.
Waffles com mel
Um breakfast típico, além dos onipresentes ovos com bacon, tem waffles (preparados em casa mesmo), pancakes (diferente das nossas panquecas), French toasts (uma espécie de rabanada), bagels (tipo de pão em formato de rosca, cuja massa é fervida antes de ser assada), muffins e alguns outros produtos.
Muffins
Cotidianamente, o breakfast é mais simples, mas incluiu uma grande variedade de cereais, vendidos nos Estados Unidos em quantidades impressionantes, e quase sempre com muito mais açúcar e sódio que o necessário. Produtos a base de aveia são comuns também. As crianças normalmente comem os cereais, enquanto a aveia é preferida pelos adultos.
French toastes
Enquanto isso, o brasileiro típico se contenta com café preto, ou com leite, e pão branco com margarina ou manteiga. Raramente inclui torradas ou frios, como queijo branco fresco, mussarela, mortadela ou presunto. Normalmente, é uma refeição muito mais leve que a do breakfast americano típico. Não chega a ser incomum o brasileiro tomar apenas um copo de café com leite e ir trabalhar só com isso no estômago.
Típico café da manhã brasileiro
Culturalmente, a preferência dos americanos por uma refeição matinal mais pesada é calórica deve-se ao fato de muitos americanos considerarem essa a principal refeição do dia, enquanto os brasileiros consideram o almoço sua principal refeição. Mas, devemos considerar também que os Estados Unidos estão situados numa zona de clima temperado, com temperaturas médias mais frias do que as encontradas na maior parte do Brasil, de características tropicais.

Com temperaturas mais baixas, é melhor sair de casa melhor alimentado, portanto.

Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a refeição matinal pode incluir frutas, como o mamão, o melão e a banana.

Ao brasileiro, costuma ser relativamente fácil se adaptar ao gosto americano, pois o breakfast é bastante saboroso. Deve-se, no entanto, tomar cuidado com as calorias, e isso para quem precisa realmente se preocupar com isso. Quanto ao americano, ele jamais vai adotar o café da manhã brasileiro, pois vai passar fome depois.







terça-feira, 12 de julho de 2016

Banha de porco, por que não??

Se existe um alimento mal falado e mal compreendido, no mundo atual, é a banha de porco. Até o início do Século XX, a única gordura disponível para a cozinha era a banha de porco, O azeite de oliva, praticamente o único óleo vegetal disponível, era simplesmente caro demais para ser usado na cozinha do dia-a-dia, e ainda é.

A bem da verdade, a única grande restrição ao consumo da banha de porco é que se trata de um alimento altamente calórico, e só. Esqueçam essa história de que a banha aumenta drasticamente o colesterol, de que óleos vegetais são muito mais saudáveis e que a banha deveria ser simplesmente banida da nossa alimentação. Isso é um mito!

Gorduras vegetais hidrogenadas são muito mais perigosas para a saúde do que a banha, e estão na maioria dos alimentos processados, desde as batatas chips, biscoitos cream craker, sorvete... praticamente em qualquer lugar. Na prática, é simplesmente impossível deixar de consumir a tal da gordura vegetal hidrogenada, mas nem por isso a gente deve se preocupar tanto. Não vamos deixar de tomar um sorvete gostoso por causa disso, certo? A chave da boa saúde está em duas palavras: moderação e equilíbrio.

Não existe motivo para se ter preconceito em relação à banha de porco. Para começar, gordura de porco não tem gosto de porco! Sim, poderíamos fazer sorvete com banha de porco, e ninguém iria notar qualquer diferença. Dá pra fazer bolo e outros doces com gordura de porco, e o sabor pode surpreender até o paladar mais aguçado. Experimentem e ficarão surpresos com o resultado.

Doenças cardíacas eram raras no tempo em que somente a banha era amplamente disponível. Hoje em dia, com a grande disponibilidade de óleos e gorduras vegetais, são, talvez, a principal causa de morte natural. E, convenhamos, nenhum de nós vai durar para sempre, certo?

Nossas avós cozinhavam usando banha, e como a comida era gostosa! Alguns poderão argumentar que naqueles tempos a expectativa de vida era menor, mas isso é simplesmente um erro estatístico: a mortalidade infantil era muito alta, e, no cômputo geral, isso derrubava a expectativa de vida... nada a ver com a banha ou com doenças cardíacas.

Assim como o ovo, a banha foi demonizada durante décadas, mas está voltando às prateleiras dos supermercados. Alguns puristas vão mandar procurar, nos açougues, toicinho de porco criado livre e sem ração, e mandar derreter em casa, mas, acreditem, isso não existe mais, minha gente. Sejam práticos. Porco caipira é tão raro, hoje em dia, quanto ovo de ornitorrinco. A banha industrializada é a mesma coisa, na prática, dá para comprar sem susto, e o efeito é o mesmo,

Não vou argumentar com nada científico, quem quiser, vejam artigos diversos sobre gorduras saturadas e insaturadas, colesterol e etc. etc, na Internet e nos livros. Mas, experimentem, de vez em quando, trocar o óleo de soja pela banha, e sintam a diferença no sabor...


A arte e a culinária como terapia

Bem vindos ao blog Artes & Gordices. Nossa proposta é trocar ideias a respeito de culinária simples, assim como arte prática e acessível. Afinal, a culinária também é uma arte, mas, obviamente, não é a única.

Se você está procurando sites ou blogs de "comida saudável", comidas que "não engordam", ou receitas "altamente sofisticadas", com certeza vai encontrar lugares melhores para pesquisar do que esse. A proposta desse blog é fazer artigos atraentes, e criar receitas simples, cujos ingredientes possam ser encontrados nos mercadinhos de bairro, padarias e açougues, por baixo custo, e sem grandes preocupações com colesterol, gordura, câncer, etc etc... Esse assunto virou quase uma paranoia moderna, e estamos fora disso, com certeza.
Comida simples...
Não estamos restritos a receitas, pois sempre teremos artigos sobre arte, culinária brasileira ou estrangeira, além de dicas diversas

Nem sempre comida cara é comida gostosa, e nem sempre comida gostosa é comida cara. Na verdade, uma coisa nada tem a ver com a outra.

Partimos do princípio de que é fácil fazer ótimas receitas para salmão, picanha, filé mignon, mas já não é tão fácil fazer pratos deliciosos com pé de frango, ou coração de boi, por exemplo.

O mundo atual é competitivo, estressante e, muitas vezes, deprimente. Mas, tanto a arte quanto a culinária podem se constituir em terapias para o stress, para a depressão e para a infelicidade. Dá trabalho? Claro que dá, mas a felicidade de se fazer um simples almoço familiar, fazendo alguma comida diferente, fazendo experiências, é ímpar. 

A inspiração desse blog vem tanto das receitas das vovós tanto quanto vem da arte dos grandes mestres. Não temos a menor preocupação em saber se determinado ingrediente ou comida pode causar câncer, ou se aumenta ou diminui o colesterol. Afinal, não somos destinados a viver para sempre, e as opiniões a respeito de alimentos são altamente conflitantes, não é possível chegar a um consenso nesse assunto. E, quanto à arte, a ideia é simplesmente curtir a beleza, só isso.

Bem vindos, começamos hoje!!! Um beijo!