A quantidade de informação sobre alimentos que nos chega pela Internet, redes sociais, imprensa e mesmo nas conversas do dia a dia é tão imensa quanto contraditória. É comum, por exemplo, haver discussões a respeito de vegetarianismo, veganismo, em contraposição aos fãs dos alimentos de origem animal.
Certamente, não quero entrar nessa discussão, e minha opinião sincera sobre o assunto é: cada um come o que bem entender, mas não precisa convencer os outros a adotar sua dieta.
Muitos mitos sobre alimentos são propalados pelas redes sociais, por sites da Internet, pela imprensa e, pasmem, até mesmo pelos médicos. Frequentemente, aparecem informações de que determinado alimento faz mal, é nocivo, venenoso, encurta a vida, causa doenças como cardiopatias e câncer, e por aí vai. Também já não é incomum alimentos antes "banidos" voltarem à "moda", "ressuscitados" como excelentes para a saúde, depois de serem condenados como nocivos.
Quero elencar aqui alguns mitos e fatos sobre alimentos, entre os mais comuns e mais consumidos. Não sou, é claro, dona da verdade, e pesquisei muito antes de escrever alguma coisa sobre isso, mas quero que reflitam sobre isso. Fico aberta a opiniões. Vamos lá:
Pimenta do reino |
1) Mito: A pimenta-do-reino é uma planta venenosa, e como tal deveria ser banida das nossas mesas, por ser irritante e nociva para o sistema digestivo.
Fato: Não existe nenhum tipo de veneno na pimenta do reino, qualquer que seja a forma em que ela se apresente (preta, vermelha, branca ou verde). O sabor picante da pimenta do reino vem da piperina, que só fará mal ao estômago se for consumida em quantidades e frequência muito grandes. Consumida com moderação, não faz mal nenhum, a não ser em pessoas reconhecidamente alérgicas à essa especiaria e nas que possuem histórico médico de problemas de úlcera, azia e outros problemas relacionados ao estômago. Nesse caso, pode-se consumir, como substituta, as pimentas vermelhas, que apesar de terem sabor mais picante, são totalmente inofensivas ao sistema digestivo.
sal rosa do Himalaia: muito caro para pouquíssimos benefícios |
2) Mito: O sal rosa do Himalaia é muito mais saudável que o sal comum, por conter vários minerais essenciais ao corpo humano.
Fato: Quase 95 por cento da composição do sal rosa do Himalaia é cloreto de sódio, o mesmo sal comum que consumimos há milênios. Embora ele tenha na sua composição outros minerais, esses estão presentes em quantidades tão ínfimas que os ganhos nutricionais serão praticamente nulos. Mais, por ter um sabor (supostamente) menos salgado que o sal comum, ele pode induzir a um perigosamente alto consumo de sódio. O alto preço cobrado por esse sal, que pode ser até 20 vezes superior ao preço do sal comum, não compensa os supostos benefícios. É um condimento totalmente dispensável.
3) Mito: A margarina, por ser vegetal, é mais saudável que a manteiga, pois não tem colesterol e nem gorduras saturadas.
Fato: A manteiga não é uma vilã, como se propalou por muito tempo, e pode até ser mais saudável que as margarinas, constituídas basicamente de gorduras hidrogenadas, cujo potencial de danificar as artérias é consideravelmente maior. Todavia, consumidas moderadamente, o potencial desses alimentos de causar efeito nocivo é muito pequeno, para não dizer desprezível. Creio que dispensa preocupações. Para cozinhar, sugiro usar a manteiga, ou mesmo a banha de porco. Deve-se levar ainda, em consideração, que ambas são alimentos de alto valor calórico.
4) Mito: A carne de salmão, hoje amplamente disponível no mercado, por preços relativamente acessíveis, provem de aquacultura intensiva, não possuindo nutrientes como ômega-3 e são perigosos à saúde, por conter gordura em excesso e antibióticos para evitar doenças nos peixes.
Fato: Em primeiro lugar, a pesca de salmão selvagem é insustentável e levaria tais peixes ao risco de extinção, além de levar o produto a preços absurdamente caros e inacessíveis. É provável (mas não confirmado) que o salmão selvagem tenha maior nível de nutrientes, como vitaminas e ômega-3, mas também é mais provável que tenha maior contaminação por metais pesados, por exemplo, que estão presentes nos crustáceos que constituem sua base alimentar. O salmão é um peixe frágil e suscetível a condições ruins de água, então é improvável que sobreviva a condições tão ruins quanto as propaladas pela Internet. O peixe é gordo, naturalmente, e portanto com alto valor calórico, mas, fora isso, e na quantidade em que é consumido, não fará mal pra ninguém, podem consumir sem preocupação.
Panga |
5) Mito: O peixe Panga, um dos mais baratos disponíveis no mercado, é um peixe altamente contaminado do Rio Mekong, com vermes e outras doenças, e se alimenta de restos de outros peixes mortos.
Fato: o peixe Panga, as vezes denominado de Pangasius, realmente é importado do Viet-Nan e é comum no Rio Mekong e outros rios do Sudeste da Ásia. O Rio Mekong é um dos maiores rios do mundo e tem uma diversidade biológica somente inferior à do Rio Amazonas. A pesca comercial é intensa e produtiva, e daí pode-se concluir que não é um rio tão contaminado quanto propalam na Internet. O peixe é comercializado em 120 países, incluindo praticamente toda a Europa e a América do Norte, passando por todos os processos de inspeção de produtos animais, bastante rigorosas atualmente. O fato do peixe comer restos de outros peixes mortos é característico de todos os peixes semelhantes a ele, comuns e consumidos no mundo inteiro, Pode ser consumido sem susto, é barato e é boa fonte de proteínas, mas o seu sabor é pronunciado e não agrada a todos.